Tempo tardade

Branca, a protagonista de Tempo Tardade, realiza nesta novela dúas viaxes. O primeiro é a volta a súa casa familiar en Tardade, a súa aldea natal, agora baleira despois do falecemento da súa nai. E o segundo é unha viaxe interior e ao pasado, cheo de recordos de cando era nena, preguntas, silencios e unha maleta chea de cartas dun tío emigrado a Bos Aires. Esta premisa sírvelle a Raquel Miragaia para abordar diferentes ideas e conflictos como a importancia da memoria, as fisuras emocionais producidas polo transitar entre o campo e a cidade ou a reivindicación dun retrato do mundo rural afastado de visións románticas e tópicas. 

"A leitura das cartas do tio Serafim deixou-me realmente curiosa. Quase não se falava dele em casa, era apenas um nome que de vez em quando lembrava o avô: 'meu irmão, o da Argentina' e despois vinha uma anedota da infância. Só falava dele em criança, o que se achou sempre normal, já que se tinham separado muito cedo. Também soubera que morrera cedo e que tivera vários filhos. Mas aquelas cartas regulares, ocultas numa gaveta do armário, mostravam um relato de uma vida próxima, comum. A mãe também quase não falava do tio Serafim, apenas para lembrar o muito que se parecia com seu pai, apesar de nunca o ter visto. E era verdade, as fotos que acompanhavam as cartas mostravam o mesmo corte quadrado do rosto, o nariz afiado e os olhos separados que caracterizavam o avô.

Fascinava-me esse mundo desconhecido mas também meu. Tentava compreender aquela distãncia que não era física e suspeitava que a minha fuga começara muito antes do dia em que me fora da casa. Começara já no meu isolamento de criança, no desprezo pelas conversas que não tinham a ver comigo, nas fantasias que inventava e que sempre aconteciam longe, muito longe".

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"Consegui de novo estragar uma conversa com Modesta e senti-me muito estúpida naquele momento. Nunca aprenderia isso, os tempos, as palavras certas, o que se esperava de min. Isso sim fora consciente na minha fuga queria ir embora para algum lugar onde ninguém tivesse expectativas a meu respeito, onde o meu destino nao estivesse traçado por tudo o que se esperava de uma mulher, jovem, nascida na casa de Roxos, filha da Lola de Roxos e do Manuel de Campelo, neta do Arsénio de Roxos e da Ines de Martiz e assim, numa genealogia de nomes cada vez mais remotos e mais desconhecidos que sempre souberam o que havia que fazer. 

- Não, não, não, não... senhora Modesta, não, a senhora nunca incomoda. Só que eu, não sei, ainda me baralho muito e nem sei o que é normal e o que nao é normal fazer aqui. 

- Aqui? Como aqui?

- Aqui, na aldeia, já sabe. Não sei com quem falar ou se é normal ir à casa de qualquer pessoa em qualquer momento, ou como falar com Joaquim do que quero plantar. Nem sei plantar. Nem o que plantar. Nem porque quero plantar". 

Tempo tardade, Raquel Miragaia (Através Editora)

 

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